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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Autora de “Formas de Pensar o Desenho: desenvolvimento do grafismo infantil”, Edith Derdyk fala sobre o papel do professor.


Autora de “Formas de Pensar o Desenho: desenvolvimento do grafismo infantil”, Edith Derdyk fala sobre o papel do professor.

Segue um trecho da entrevista que pode ser lida na íntegra pelo site Arte na Escola.

O educador precisa desenhar!

Desenho pode ser entendido como manifestação que acontece
em qualquer lugar: as conchas na praia, os riscos na lousa, as
canetinhas em cima da mesa, as pegadas de um bicho, o vento
no mar – alguém ou algo passou por ali humanizando e
ressignificando os espaços. A vocação do desenho é transitiva,
estando presente em muitas modalidades, matérias, espaços,
alcançando um sentido maior e mais expansivo que escapa do
entendimento do desenho apenas como ‘coisa de lápis e papel’,
segundo Mário de Andrade.  Edith Derdyk.

Como o professor pode conseguir o equilíbrio entre mediar o ensino do desenho e simplesmente "deixar desenhar"?
Acredito em parcerias entre educador e educando, entre educação e arte, entre o sujeito e a matéria, entre experiência e conceito, entre sensibilidade e inteligência, entre experimentar e adquirir informação, tal como num jogo de peteca onde a graça é não deixá-la cair. Aí também entra como ingrediente a sutil arte de educar, onde o educador não impõe e nem se impõe, mas consegue proporcionar e ativar o que cada criança necessita para realizar seu potencial
criativo. E para isto nada melhor do que o educador que trabalha com arte, estar afinado com seu próprio instrumento de trabalho.
A excessiva exposição das crianças à avalanche de imagens, que você caracteriza como tempos da "ficção e da paródia", certamente influencia muito o desenho infantil. Que sugestão você daria para o professor incentivar a criança a desenhar "outras imagens"?
Investigar onde está o manancial de nosso imaginário, seja individual, seja coletivo, seja da criança, seja do adulto, implica em não perder de vista a perspectiva da experiência. Ainda mais em se tratando de uma linguagem expressiva e criativa cuja construção acontece justamente onde reside o sabor da experimentação. Também é muito importante perceber que o imaginário (lembrando que imaginário nasce da palavra “imagem”) está totalmente conectado com a observação - do aqui e do agora - e que o estado da observação do mundo convoca também nossas memórias. Observação, memória e imaginação caminham juntas, são as matérias do nosso corpo que vive nesta paisagem contemporânea.
Em um fórum de discussão no site Arte na Escola sobre "A responsabilidade do ensino do desenho, modelos e propostas na Educação Infantil”, professores relataram falas de alunos como: "não sei desenhar" ou o "meu desenho ficou feio". De que maneira o professor pode lidar com afirmações assim?
Formulações como estas têm suas origens numa idéia  de desenho calcada em modelos clássicos representacionais, onde o desenho se realiza como cópia duplicada das figuras do mundo, mais do que a possibilidade da experimentação. Dependendo do repertório prático e teórico - que o educador carrega em sua bagagem e pela maneira que o educador formula suas propostas de aula, o desenho vai para um lado ou para o outro: ou para o desenho como cópia do real a priori ou para o desenho como ação e experiência sem o compromisso anterior com os modelos clássicos representacionais. Esta é uma longa história que atinge as origens das academias de ensino no Brasil, com a vinda da Missão Francesa, em 1816, que rebate hoje nesta enunciação “não sei desenhar”, povoando a criança e o adulto de uma enorme frustração.
Neste mesmo fórum, muitos reclamaram do desenho infantil estereotipado. Como caracterizar esses estereótipos? Seria apenas uma linha tênue entre copiar um desenho e imitar um desenho?
A cópia tem origem num modelo anterior de desenho onde a criança, o adolescente e mesmo o adulto desenham uma ideia de desenho distante de si mesmos, desenham se submetendo a um ideal de desenho. Imitação sinaliza outra direção: significa apropriação, mimesis, pantomina (mímica), onde o sujeito que desenha, desenha de dentro, desenha com o corpo inteiro e não isento de sua subjetividade. Para esta diferença sutil, porém avassaladora entre cópia e imitação estar bem clara para o educador, ele precisa, antes de mais nada, desenhar!


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