Um
dos grandes desafios do ensino de Arte na contemporaneidade é tornar-se uma
disciplina reconhecida por alunos e professores dos outros componentes
curriculares, já que a mesma recebe ainda, o estigma de apêndice para as outras
disciplinas na Educação Básica.
A
Arte, como disciplina escolar, possibilita o estudo de saberes em arte
presentes na cultura e articulados pela linguagem verbal e não verbal, tendo
como objeto específico o conhecimento estético. Como parte de um sistema social,
carrega consigo não só reflexos ideológicos, mas uma carga ideológica, muitas
vezes a ela atribuída. Nesse sentido, reforça a desigualdade social quando
limita o acesso e o domínio dos saberes, pela distância entre este conhecimento
e as classes menos favorecidas.
Sabemos
que as linguagens da Arte ainda são pensadas no contexto da educação
institucionalizada prioritariamente como um meio eficaz para alcançar conteúdos
disciplinares com objetivos pedagógicos muito amplos, como por exemplo, o
desenvolvimento da “criatividade”, apesar desse pensamento já estar mudando em
algumas instituições de ensino. Temos hoje trabalhos divulgados acerca do
ensino dessas linguagens não como um apêndice para outras disciplinas ou
desenvolvimento da criatividade, mas como conteúdos necessários para fazer e
compreender arte.
Apesar
de todos os esforços para o desenvolvimento de um saber artístico na escola,
verifica-se que a Arte, historicamente produzida e em produção pela humanidade,
ainda não tem sido suficientemente ensinada e apreendida pela maioria dos
jovens brasileiros, pois a mesma surge como reprodução e não como reflexão na
escolarização básica sem re-significação dos conteúdos abordados, re-elaboração
dos saberes em Arte por professores e alunos.
Os
Parâmetros Curriculares Nacionais em Arte, uma das novas propostas na
atualidade para o ensino de Arte, traz como eixo principal as quatro linguagens
artísticas que podem ser trabalhadas em sala de aula, entretanto, este
documento aponta para um ensino de Arte pautado na LDB nº 5692/71 em que a
falta de uma preparação de pessoal para entender Arte antes de ensiná-la ,
gerou arte-educadores polivalentes. A nosso ver, a proposta dos PCNs na área de
Arte é ambiciosa e complicada de ser viabilizada na realidade escolar
brasileira. Para a sua aplicação efetiva, seria necessário poder contar com
recursos humanos com qualificação o que implica desde a valorização da prática
profissional até ações de formação continuada e acompanhamento pedagógico
constante, além de recursos materiais que atendessem às necessidades da prática
pedagógica em cada linguagem artística.
Sendo
assim as propostas dos Parâmetros serão realizadas apenas na medida dos
recursos humanos disponíveis. Assim, se o professor de Arte de uma dada escola
for formado em Teatro, por exemplo, será esta a linguagem artística contemplada
no currículo. Uma outra variante desta situação, que já começa a ter lugar em
estabelecimentos particulares, é a escola escolher a(s) modalidade(s)
artística(s) que considera mais conveniente(s) para os seus interesses,
contratando um professor com formação adequada. Neste caso, podem pesar
argumentos acerca da conveniência de evitar reclamações dos pais na hora de
comprar material para as aulas de Artes Visuais, ou então sobre como
determinado campo da arte pode contribuir para o marketing da escola - ao
produzir apresentações musicais, por exemplo.
Considerar
as linguagens artísticas como um ato educativo em sua relação com a educação
institucionalizada, torna-se uma experiência desafiadora no sentido de
questionarmos o ensino das Artes Cênicas, da Música, das Artes Visuais e da
Dança no âmbito do Ensino da Arte, uma vez que este ainda guarda o estigma de
ser tomado como apêndice ou auxiliar de outras disciplinas tidas como “nobres”.
Os
novos desafios desse ensino institucionalizado é poder ter as quatro linguagens
artísticas num mesmo estabelecimento de ensino, podendo o aluno ao longo de sua
formação na Educação Básica vivenciar experiências nas quatro linguagens artísticas
permitindo-lhe experienciar, fruir, contextualizar e criticar arte.
Pensamos
as linguagens artísticas como uma referência para o Ensino da Arte na escola no
sentido de permitir o vislumbre de um fazer arte crítico. Percebemos que a
experiência com essas linguagens, na escola, pode contribuir para ampliar a
capacidade dos alunos de dialogar, de tolerar, de conviver com a ambiguidade,
de compreender a arte não apenas como apêndice para outras disciplinas ou como
espontaneísmo, mas como disciplina desveladora de conhecimentos capazes de
articular significados e valores que expressam as experiências e representações
imaginárias das diversas culturas.
Pensamos
que abordar essa complexidade denominada de Arte, requer competência e
conhecimento de sua possível articulação com a prática e compreensão da
atividade pedagógica como atividade cultural, humana e historicamente situada
na dinâmica das relações sociais e práticas cotidianas. À medida que repensamos
a nossa prática também oferecemos aos nossos alunos a abertura de espaços para
usar e experienciar o conhecimento em suas várias possibilidades. A teoria,
dessa forma, vai sendo transformada em prática e vice-versa.
As
reflexões aqui abordadas, chama-nos a pensar e superar o tratamento dado ao
longo do processo histórico do ensino de Arte no Brasil em sua perspectiva
histórico-linear, que tradicionalmente tem marcado o ensino de Arte na escola.
Em seu percurso histórico a Arte foi renomeada a fim de contemplar as
produções, as criações, seguindo as tendências das pedagogias em vigor; no
entanto, é importante entender que esses diversos meios apresentados nos
documentos oficiais que regulamentam o ensino de Arte são ferramentas e não
condições para se alcançar o conhecimento em Arte.
Nesse
sentido, o valor educativo da Arte na Educação Básica se destaca, na medida em
que reconhece a Arte como componente curricular imprescindível na formação do
sujeito e para o exercício da vida cidadã.
Questões para Debate:
1. Como realizar, na sala de aula, a proposta dos
Parâmetros Curriculares Nacionais para Arte, com suas quatro modalidades
artísticas?
2. Como se estabelece a relação do aluno com a Arte?
3. Que procedimentos utilizar visando provocar
esteticamente a recepção da obra artística no aluno e no professor dos vários
componentes curriculares?
4. Como estimular o nosso aluno a empreender uma
atitude artística, produtiva, em sua relação com o mundo lá fora?
Marcilio
de Souza Vieira,
Formado em Artes Cênicas e Mestre em educação pela UFRN.
Professor da rede pública de ensino e
pesquisador do Grupo de Estudos corpo e Cultura de movimento.
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